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Viajando de Airbnb: algumas expectativas não fazem parte do “pacote” contratado

  • Foto do escritor: Paula Pereira
    Paula Pereira
  • 2 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 14 de ago. de 2019

Quando a gente planeja uma viagem, a expectativa é uma companhia silenciosa. Ela está sempre lá, mesmo quando você pensa que “tá tudo certo, tudo fácil” e que você vai levar “tudo numa boa”. Tá tudo numa boa enquanto a realidade corresponde com as suas expectativas, quando alguma coisa te desaponta… ui, aí a expectativa é a primeira a reclamar. Às vezes ela vem acompanhada do bom senso e da razão, às vezes ela vem sozinha mesmo.


Esta viagem à Ucrânia veio com uma boa dose de expectativa. A gente queria um lugar para chamar de “nosso”, que fosse simples, mas limpinho rs. Alugamos um apartamento pelo Airbnb, por um mês e meio, em Odessa. O custo? Pouco mais de 900 dólares pelo período todo. Apartamento mobiliado com cama, mesa, cadeiras, televisão, micro-ondas, máquina de lavar roupa, internet... essas coisas, que facilitam a vida. O apartamento é super bem localizado; bem no centro da cidade, em frente à Ópera e perto dos restaurantes mais legais da cidade.


Eu poderia contar sobre como este apartamento tem escadas em mármore branco que levam até o quarto andar, sobre o quanto a arquitetura é rica em detalhes e como o pátio remonta a história da cidade. Mas a verdade é que, apesar dessas lindas verdades, existem outras feias, sujas, fedidas.


Escadas em mármore branco

A escadaria em mármore branco é um tesouro largado às traças. Acho que há anos ninguém limpa. Duvido até mesmo da existência de qualquer síndico aqui no prédio - já existem apenas oito apartamentos. Em teoria, a escadaria não faz parte do apartamento, portanto, não a “alugamos” pelo Airbnb. Mas ela com certeza faz parte do pacote da nossa expectativa. Não é só o apartamento que deve ser legal, “chegar até ele” também deveria ser uma experiência minimamente agradável.


escadaria
Escadaria em mármore branco do prédio onde estamos hospedados

Quem vem da rua e abre a porta do prédio se depara, logo de cara, com o cheiro horrível que está preso nos corredores. Um cheio forte. Às vezes fede mais à mofo, às vezes fede mais à urina, difícil distinguir. A sujeira está em cada degrau. Não existem janelas que ajudem a circular o ar lá dentro e, quando chove, você logo descobre que existem buracos na telha sintética que cobre o centro do prédio. E em cada andar há um potinho de plástico com bitucas de cigarro. Aliás, um dia desses Sergei viu um dos potinhos com uma seringa. Complicado... Mais recentemente, apareceu um carrinho de bebê no corredor. Estranho, há dois dias o carrinho está parado lá com uma sacola dentro - eu é que não vou mexer né.


Toda vez que saímos de casa, eu pareço uma vitrola velha que repete sempre a mesma música “Que cheiro horroroso! Hora de prender a respiração! Vamos descer rápido! Como pode ninguém limpar esse espaço? Se cada um limpasse seu próprio andar, já ajudaria muito”.

Eu não consigo “não” me importar com o desprazer de descer ou subir as escadas. Se fôssemos moradores regulares deste prédio, eu mesma teria limpado pelo menos o nosso andar.


Sempre que saímos, fico na expectativa de que, “talvez”, naquele dia, alguém vá aparecer e limpar a escadaria. Mas já se passou mais de um mês e nada mudou. Então vai ver a vida da escadaria é essa mesma, abandonada.



Falando em vida…

Uma vez, enquanto voltávamos do mercado, encontramos um morador de rua se aninhando com alguns pedaços de pano bem ao lado da nossa porta. Ele provavelmente sabe que não deveria estar alí, mas difícil culpá-lo.


A porta do prédio deveria estar sempre trancada, mas como ela vive emperrando, a maioria dos moradores que passam já não a trancam mais. Ele deve ter visto a porta aberta e viu que alí parecia um abrigo seguro. Eu senti por aquele homem. Eu disse “oi” pra ele e pensei até em oferecer alguma comida, já que ele claramente ia passar a noite alí. Mas seria uma situação delicada caso ele voltasse todas as noites. Não apenas não queríamos assumir esse compromisso, como isso possivelmente incentivaria estranhos a circularem no prédio e a proprietária do nosso apartamento não ia gostar disso, com certeza.


Ai ai, essa “linda” escada em mármore branco me marcou… já não a quero ver mais rs.

Em uma semana retornaremos à nossa casa, onde tudo é mais lindo, limpo, cheiroso e florido. Até tenho a impressão de que a expectativa está dando lugar à ansiedade; ansiedade de voltar pra casa e pro único lugar que realmente podemos chamar de “nosso lar”.


Obs: Quanto à avaliação do apartamento no Airbnb, não vou considerar o "estado" da escada na nota, mas talvez eu faça uma observação nos comentários. Não sei, estou pensando ainda.


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