Sobre o que esperar quando "não" se está esperando
- Paula Pereira

- 1 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de fev. de 2022
Houve uma fase da minha vida em que “ser filha” era a única coisa que eu podia imaginar ser para a vida toda. Eu não me preocupava em ser mãe porque nem acreditava que me casaria um dia. Mas casei e um dia me peguei acreditando num sonho estranho que tive onde eu levava o filho para a aula de natação. Ter filhos, no entanto, não era algo que aconteceria assim, automaticamente. Quando nos casamos, sabíamos que aquele não era o melhor momento para ter um filho.
À época, nós dois estávamos desempregados, papai estava acamado, enfrentando seus últimos episódios contra o câncer e mamãe, ah, mamãe estava sendo guerreira cuidando de todos nós. Compreendendo essa situação, não ousávamos nem imaginar “quando” poderíamos ter um bebê. Sergei tinha o desejo de ser pai e eu, agora casada, via essa possibilidade com um otimismo cada vez maior. Mas aos trinta já me sentia velha e temia que o tempo não ajudava. Não que trinta seja tarde para ter filhos, mas eu sabia que nossa situação não iria melhorar da noite pro dia, então, o talvez sonhado “momento ideal” viesse só quando fosse biologicamente tarde demais.
Os primeiros anos do casamento foram passando e não havia quem não perguntasse “E aí, quando vem um filhinho?”. No começo isso não me incomodava, pois eu era segura de que a resposta era lógica: “Agora não é o momento, mais pra frente, quem sabe”. Nos dois primeiros anos essa foi a resposta padrão.
Nesse período muita coisa aconteceu: mudamos de casa, papai faleceu sem conhecer um netinho; mamãe se aposentou, mas continuou trabalhando; Sergei voltou à Ucrânia para buscar um emprego e ficou nove meses longe de casa trabalhando; e eu entrei para o mestrado. Quando finalmente estávamos juntos novamente, o tão esperado "momento certo" parecia estar alí, prestes a acontecer. Parei de tomar a pílula e passei com o ginecologista para avisar que estávamos nos preparando para ter um bebê. Ele me examinou, disse que eu estava bem e que ele só me veria novamente quando o teste de gravidez desse positivo. Achei que eu marcaria a consulta nos próximos 3 meses, mas não rolou.
Eu já havia ouvido dizer que, após parar a pílula anticoncepcional - depois de mais de uma década tomando - seria normal que não houvesse gravidez nos próximos seis meses, por isso, não me preocupei muito e não fizemos muitos esforços nesse sentido. Mas eu também soube, pelo médico, que seria normal que um casal saudável levasse até um ano e meio para engravidar. Um ano e meio? Caramba, e eu achando que engravidar seria como passar num Drive Thru. Nessas horas a gente olha a vida com ironia. Parece que na faixa dos vinte aparecem várias mocinhas que engravidam da noite pro dia porque esqueceram de usar a camisinha com o namorado. Como poderia eu, no início dos 30 e saudável, levar todo esse tempo para engravidar? “Paciência”, eu me dizia. O importante é que estávamos fazendo tudo conforme planejado.
Sergei e eu tivemos horas e horas de conversa sobre como gostaríamos de educar uma criança, os valores que seriam importantes passar, as atividades ela poderia fazer e sobre como ele (papai) a mostraria as constelações no céu e como eu (mamãe) a ensinaria sobre as diferentes vidas que habitam a floresta. Resisti, durante este tempo todo, a comprar um daqueles livros que ensinam o que se passa dia a dia na gravidez e que explicam aos pais de primeira viagem quais são os cuidados que devemos ter com um bebê. Achei melhor esperar. Controlar a ansiedade nunca foi meu forte e um livro desses em mãos só me faria sentir pior.
Os meses foram passando, e nada. Quando me dei conta, minha resposta aos que me perguntavam “Quando vocês vão ter um bebê?” já não era mais tão segura e otimista. A resposta ainda era verdadeira, mas dolorida: “Ah, estamos tentando…” e uma expressão de consolo se seguia.
Um ano e cinco meses na tentativa. É frustrante. A euforia deu espaço à preocupação e buscamos ajuda médica para nos certificar de que estava mesmo tudo bem com nós dois. Está tudo bem e por isso temos que levar a vida como quem não tem pressa. Vamos esperando... esperando o dia em que ele(a) der seu primeiro sinal de existência, esperando o dia em que poderemos compartilhar essa alegria com os amigos e com a família e esperando o dia em que ele(a) usará seu primeiro presentinho: um sapatinho branco que a futura dinda nos deu.



Se essa pessoa que deu o sapatinho branco for quem estou pensando, posso te afirmar que ela está nesse exato momento chorando dentro do ônibus , emocionada com a notícia e não vendo a hora de conhecer essa criança tão esperada por todos nós! Será uma honra e uma alegria enorme ser a dinda dela ❤️
Paulinha está sendo maravilhoso acompanhar vc no seu blog 👏